Uma das coisas mais preciosas que tenho aprendido é a me desvencilhar do que não me serve mais. Melhor dizendo, mais do que o mero descarte, tenho aprendido e aceitado que o tempo de tudo chega ao fim, exatamente como afirma o Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. (...) Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora”. O que pressupõe, claro, uma boa faxina, de papéis e de sentimentos.
Vivemos falando do tempo. Que ele cura todos os males, que devemos dar tempo ao tempo, que precisamos “de um tempo”. Que temos pouco ou todo do mundo, dependendo da vizinhança e da situação. Que só ele dirá.
Santo Agostinho lançou o enigma famoso: "Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu o sei; se desejo explicar a quem o pergunta, não o sei". Estaria o santo filósofo variando? Caetano saiu-se com a bela mas não mais esclarecedora metáfora: o tempo, “compositor de destinos”.
Tamanho seu sucesso no hit parade ao longo dos séculos, ele, por fim, virou mercadoria. Vendemos nosso tempo à vida moderna, mas é como se, com essa operação, comprássemos um título de um clube exclusivo. Somos tão mais conceituados quanto menos tempo temos, de preferência porque trabalhamos muito, porque somos utilíssimos neste mundo em que as individualidades são facilmente descartadas e podemos perder rapidinho nosso posto. Às vezes, damo-nos conta de que o tempo está passando e de que não fizemos nada – casar, comprar bicicleta (o que seria uma medida muito inteligente e ecológica, diga-se de passagem), casa, carro, carrão, computador, celular.
Em lugar disso, alguns de nós perdem(os) tempo disparatadamente curtindo o ócio. Tomando café mais devagar, jogando conversa fora, apurando o leite na panela até ele virar doce, ralando mandioca para fazer um bolo, que dureza...
Foi meu amigo Carlos quem me chamou a atenção para minha relação diferenciada com o tempo, justamente por causa de um bolo de macaxeira, feito na véspera para sua visita. Não que eu não seja uma paulistana neurótica, que não sabe viver sem fazer pelo menos duas coisas ao mesmo tempo, que vive correndo com prazos, trabalha bem sob pressão e está muito adaptada à loucura nossa de cada dia. Mas acho que cansei de correr e também de acumular coisas e passados inúteis. Estou ficando velha? Claro! Também.
A gente gasta uma energia enorme para manter tudo sob controle, trabalha muito para acumular cada vez mais e mantém relacionamentos aos quais não consegue prestar atenção (e não percebe como muitos são verdadeiras roubadas, que merecem um descarte imediato). Se houvesse tempo para olhar tudo com mais vagar, nossa qualidade de vida seria outra – e não estou falando só de menos poluição, alimentação mais saudável, menos barriga etc. Refiro-me à qualidade das relações – com os outros e consigo.
Por isso acho tão bonito quando o Renato Teixeira (ou o Almir Sater, ou a Bethânia) canta o sabor das massas e das maçãs, já sem nenhuma pressa. E embora quase todo mundo siga um ciclo parecido – amar, chorar, chegar, partir –, é reconfortante lembrar que cada um compõe a sua história e tem o dom de ser feliz. Cada um na sua hora e vez, cada um a seu tempo.
Vivemos falando do tempo. Que ele cura todos os males, que devemos dar tempo ao tempo, que precisamos “de um tempo”. Que temos pouco ou todo do mundo, dependendo da vizinhança e da situação. Que só ele dirá.
Santo Agostinho lançou o enigma famoso: "Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu o sei; se desejo explicar a quem o pergunta, não o sei". Estaria o santo filósofo variando? Caetano saiu-se com a bela mas não mais esclarecedora metáfora: o tempo, “compositor de destinos”.
Tamanho seu sucesso no hit parade ao longo dos séculos, ele, por fim, virou mercadoria. Vendemos nosso tempo à vida moderna, mas é como se, com essa operação, comprássemos um título de um clube exclusivo. Somos tão mais conceituados quanto menos tempo temos, de preferência porque trabalhamos muito, porque somos utilíssimos neste mundo em que as individualidades são facilmente descartadas e podemos perder rapidinho nosso posto. Às vezes, damo-nos conta de que o tempo está passando e de que não fizemos nada – casar, comprar bicicleta (o que seria uma medida muito inteligente e ecológica, diga-se de passagem), casa, carro, carrão, computador, celular.
Em lugar disso, alguns de nós perdem(os) tempo disparatadamente curtindo o ócio. Tomando café mais devagar, jogando conversa fora, apurando o leite na panela até ele virar doce, ralando mandioca para fazer um bolo, que dureza...
Foi meu amigo Carlos quem me chamou a atenção para minha relação diferenciada com o tempo, justamente por causa de um bolo de macaxeira, feito na véspera para sua visita. Não que eu não seja uma paulistana neurótica, que não sabe viver sem fazer pelo menos duas coisas ao mesmo tempo, que vive correndo com prazos, trabalha bem sob pressão e está muito adaptada à loucura nossa de cada dia. Mas acho que cansei de correr e também de acumular coisas e passados inúteis. Estou ficando velha? Claro! Também.
A gente gasta uma energia enorme para manter tudo sob controle, trabalha muito para acumular cada vez mais e mantém relacionamentos aos quais não consegue prestar atenção (e não percebe como muitos são verdadeiras roubadas, que merecem um descarte imediato). Se houvesse tempo para olhar tudo com mais vagar, nossa qualidade de vida seria outra – e não estou falando só de menos poluição, alimentação mais saudável, menos barriga etc. Refiro-me à qualidade das relações – com os outros e consigo.
Por isso acho tão bonito quando o Renato Teixeira (ou o Almir Sater, ou a Bethânia) canta o sabor das massas e das maçãs, já sem nenhuma pressa. E embora quase todo mundo siga um ciclo parecido – amar, chorar, chegar, partir –, é reconfortante lembrar que cada um compõe a sua história e tem o dom de ser feliz. Cada um na sua hora e vez, cada um a seu tempo.
25 de outubro de 2008
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