terça-feira, 25 de maio de 2021

Oikos

Já faz um tempo que temos procurado ser mais ecológicos, evitando o desperdício de água e comida e o consumo excessivo.
Não é fácil. Tento criar um cardápio semanal para aproveitar ao máximo legumes e verduras e preparo em maior quantidade, para congelar, coisas básicas como arroz e leguminosas. Fiz cursos de aproveitamento e de congelamento de alimentos. Comprei a lava-louças que promete gastar menos água e a geladeira que consome menos energia. Consegui um desodorante em pedra que deve durar uns três anos, além de não ter aqueles químicos todos que podem ou não provocar câncer de mama. Tentei (mas não consegui) usar coletor menstrual para evitar os absorventes que demoram décadas para se desintegrar. Vamos, ou íamos, à praia de bike.
O que me frustra nessa tentativa de ser ecológico é como é algo ainda caro para a maioria, a menos que você consiga produzir muitas coisas em casa. Roupas, móveis, utensílios, alimentos. Além disso, mesmo buscando, por exemplo, uma alimentação com menos produtos processados, ingerimos muito veneno e hormônios. Continuamos à mercê dos grandes conglomerados, que ditam as regras do mercado e nos empurram uma comida pouco saudável, pouco ecológica e pouco democrática, já que muitas vezes está associada à exploração de trabalhadores no campo e na indústria, além da destruição dos espaços naturais. 
Pagamos cada vez mais caro pela energia elétrica, e o uso de painéis solares, num país tropical como o nosso, ainda é um grande luxo. A maioria dos produtos de higiene e beleza ainda está ligada a experimentos com animais, substâncias tóxicas e práticas pouco sustentáveis - embora já venhamos assistindo a uma pequena revolução nesse sentido.
Há também, por trás do discurso que estimula cada um a fazer sua parte, o interesse de governos e empresas de tirarem sua responsabilidade da reta. E é o que nos lança no desespero de ainda fazermos tão pouco para conter a catástrofe climática que se desenha diante dos nossos olhos a cada dia. Claro que há também os que afirmem que a natureza sobreviverá a nós, e se recuperará de alguma forma quando não estivermos mais aqui, mortos talvez pelo calor ou pelo frio ou por falta de comida ou de água. Também há cientistas alertando para o fato de que nem tudo que é vendido como natural é bom e que não basta o selo do produto orgânico para que algo seja sustentável.
De qualquer modo, me sinto bem de produzir menos lixo, de os restos de verduras e frutas virarem composto para as árvores do quintal, de resistir a liquidações das lojas favoritas, de ser capaz e ter condições financeiras de produzir nossas refeições. Talvez deixe de comer carne em algum momento. Ainda acredito que a ética - antes de tudo, e cada vez mais, um valor pessoal - é a melhor guia a reger nossa relação com essa grande casa que é o planeta.