segunda-feira, 9 de junho de 2014

Greve!

Hoje é o quinto dia de greve dos metroviários de São Paulo, três dias antes do início da Copa do Mundo no Brasil. O Picolé de Chuchu disse que não negocia mais e anunciou a demissão de 60 funcionários (estranho é que não havia cogitado isso antes caso os funcionários não aceitassem a oferta "generosa" de reajuste do governo). Subiu nas tamanquinhas, mesmo sem mudar a expressão facial.
Parte da população critica os grevistas. Eu não. Acho a greve justa, um direito conquistado, próprio de países civilizados. Será que não é o nosso caso, a civilização? O problema é que o trabalhador brasileiro se habitua tão facilmente à exploração que não percebe que ele também tem direito de sair às ruas, protestar, exigir. Vi com enorme esperança as manifestações do ano passado, achava que elas evoluiriam de um ato "espontâneo" para algo pautado, pensado, organizado, amplo e justo. O que aconteceu é que acabaram se diluindo, e agora, quando os grevistas saem às ruas, são chamados de oportunistas, acusados de atrapalhar a vida dos outros trabalhadores.
De fato, é horrível ver na TV diaristas que demoram 4 horas para chegar ao trabalho ou à sua casa (por que será que são sempre elas as escolhidas para as entrevistas?). Mas uma greve precisa de ruído para ter efeito, ou então se torna alvo de chacota, como os movimentos do professorado brasileiro. Quem se importa com a educação? A quem afeta a paralisação dos professores? Claro que nós sabemos - mas é um problema para o "futuro", e nenhuma criança vai ser demitida pelos pais se faltar às aulas.
Os metroviários hoje quase alcançam o mesmo repúdio ao PT no que diz respeito ao males da sociedade. Ninguém pensa que o dinheiro desviado nas obras do metrô poderia muito bem pagar o que os grevistas pedem de reajuste. Ops, parece que houve uma amnésia quase generalizada!
Há poucos dias, tivemos outra greve, dos motoristas e cobradores de ônibus. Essa sim, pura bandalheira. Não foi organizada como a dos metroviários, que inclusive deixaram de fazer a sua para não lançar São Paulo num caos ainda maior. A paralisação dos ônibus, promovida por uma facção do sindicato correspondente, me fez lembrar os ataques do PCC em 2006. Algo do tipo: "vamos mostrar quem é que manda".
Tive a oportunidade de presenciar as famosas manifes francesas quando estive em Paris. Fiquei emocionada. Claro que pode haver confusão, pessoas deixam de ter acesso aos serviços etc. Mas o que mais me chamou a atenção foi a compreensão da maioria das pessoas com relação ao fato da reivindicação por um direito. Isso é democracia.
Enquanto cada brasileiro pensar somente no seu quadrado (que muitas vezes nem é um quadrado "próprio"), o gigante vai continuar deitado em berço cada vez menos esplêndido, pilhado que é pelos verdadeiros oportunistas de tocaia.