terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Pelo direito de comprar as próprias calcinhas

Outro dia, conheci uma moça que se gabava de ter seu perfume e calcinhas escolhidos/comprados pelo marido. OK, acho sexy um presente-surpresa-convite desse tipo, mas como prática cotidiana me causa certa estranheza. Até porque ela disse que eram o perfume e as peças de que ELE gostava. Mas eu não tenho nada a ver com isso, né?
Daí aconteceu de eu cruzar com a moça e o tal marido. À primeira vista, um sujeito até simpático. Encantou-se por meu marido e logo pareciam velhos amigos. Dali a pouco começou a caçoar da esposa porque ela não sabia "nem fazer um miojo". Mas fazia bem pudim, embora o de outra pessoa que eles conheciam ainda fosse melhor que o dela. Percebi que ele não era bom em ouvir os outros, estava sempre tentando sobrepor sua fala à dos demais. Ela se mantinha submissa, interrompida por ele todo o tempo. Quando qualquer outra mulher falava, também, ele não dava nenhuma atenção. Embora só quisesse interagir com os homens presentes, falava aos brados de episódios de seriados e filmes da adolescência, e era essa sua conversa, um ruidoso solilóquio. 
Então ele resolveu contar, aos risos, como fez questão de ir a uma cerimônia de casamento de parentes da esposa usando jeans rasgados, só para sacanear a galera, que havia pedido trajes sóbrios. Claro que a única pessoa que ele conseguiu constranger foi a esposa. 
Fiquei observando aquela risada estéril. Pensei em como era possível que uma mulher deixasse que um homem como aquele escolhesse as calcinhas que ela deveria usar. Como era possível qualquer tesão? Se por menos que isso perdemos o élan, como ficar com alguém que, por uma pequena amostragem, já se mostra machista, misógino e infantil? 
Cada casal sabe de sua dinâmica, nosotros só fazemos mesmo pitacar. Mas me deu uma vontade grande de dizer a ela: sai dessa, ainda dá tempo, você é muito mais do que ele faz você acreditar. Me deu ganas de aconselhá-la a uma rodada de compras para si própria, para se fazer bonita para si, em primeiro lugar. Sentir-se bem com o que se é para, somente então, encontrar, se for o caso, alguém que dê valor ao que ela é. Não é fácil, mas menos que isso é inaceitável. 

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