Hoje li um texto ótimo da Djamila Ribeiro na Folha, sobre homens que consomem mulheres, mas não as apreciam. Embora não curta as tretas da Djamila com outras importantes figuras dos movimentos anti-racistas, achei seu texto de uma precisão ímpar.
Coincidência ou não, tem circulado uma postagem que fala de homens que comem mulheres, mas não respeitam, não leem (e Djamila também menciona isso), não admiram mulheres, porque só amam outros homens. Parece um sinal dos tempos, essa consciência feminina da misoginia "controlada", pragmática. Talvez sempre tenha sido assim, os gregos e romanos que o digam.
Se unirmos o texto de Djamila e o post pop, podemos concluir que quem come sem apreciar só engole. Não pode ser de outro jeito se a companhia que interessa mesmo é outra, não a que ali está. Isso fica tão evidente quando observamos grupos de homens e mulheres conversando - há os homens que se interessam por tudo que é dito por todas as pessoas presentes, há aqueles que só conversam com outros homens, que só ouvem o que os homens dizem, que só veem os homens.
Estou tão acostumada a conversar de igual pra igual nos grupos dos quais faço parte que sempre me surpreendo com as posturas medievais de silenciamento, negação e invisibilização. Cheguei a testemunhar, não faz muito tempo, um amigo não tão próximo servindo água aos homens presentes, mas não a mim. Aliás, ele nem me olhou, como se eu não estivesse ali, sentada diante dele. "Brotherhood!", eu disse apenas, e ele ficou momentaneamente sem graça. Trata-se de uma falta de educação mais abrangente - cívica, cultural, sexual, humanista. Triste, sempre, como toda falta de educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário