Outro dia, em um café com amigos, falamos sobre envelhecer. Tudo porque comentávamos nossa pouca tolerância a algumas coisas (barulho, multidão), coisas que há alguns anos nem percebíamos, ou talvez não fossem tão extremas como hoje. Aí o Wagninho lançou o diagnóstico: estamos ficando velhos!
Eu nunca me preocupei com idade e nunca ocultei a minha. Sempre pareci mais velha quando jovem, e agora me atribuem alguns anos a menos, o que acaba sendo lisonjeiro, mas não faz assim grande diferença.
Pouco antes de eu fazer 40 anos, estava achando essa história de idade uma bobagem também no que se refere aos efeitos sobre o corpo. Dois ou três anos depois, vejo como isso sim, faz diferença. De repente, a fragilidade latente fica patente. A cada dia, a proximidade com a morte dá um pouco mais as caras. Primeiro, nas pessoas próximas, nos parentes mais velhos, nos pais de amigos. Depois, é com a gente mesmo. E quantos ficam desesperados em rejuvenescer. Pior: ficam desesperados com não ter feito da vida tudo o que queriam. Pior ainda: gostariam de voltar ao que já passou.
Ultimamente, junto com a experiência terapêutica e com a necessidade de respirar mais e ter mais foco, tenho pensado em como as duas coisas estão intrinsecamente ligadas, em como envelhecer bem tem a ver com a aceitação da nossa finitude, leia-se, nossa morte. Muitos dos grandes problemas humanos de hoje têm a ver com essa não aceitação, com a ilusão de que somos eternos. A ciência nos garante parte dessa ilusão, a sociedade de consumo, outro tanto. Mas a culpa não é delas.
Quando eu era bem jovem, tinha pavor de pensar na morte da minha avó. Por isso, vivia cada instante com ela - cantávamos, dançávamos, conversávamos. Ia com ela ao médico. Contava sobre minhas viagens. Quando ela morreu, eu estava pronta para sua partida, embora me doesse bastante - chorei sobre seu corpo enquanto a vestia para o enterro. Mas não houve culpa, porque vivemos o que tivemos de viver juntas.
No final das contas, vai ver que eu sempre soube que era simples assim. É que a gente se deixa carregar pelas torrentes alheias, pelas necessidades alheias, por aquilo que a mídia nos impõe. Acaba se esquecendo de que a vida é um ciclo naturalíssimo - se é assim com os outros bichos, por que conosco seria diferente? A diferença é que temos uma consciência que entra em curto de vez em quando; quando tudo está funcionando bem, compreendemos essa finitude, presentificamos nossas atitudes e relações. Do contrário, cuidar da alimentação e fazer ginástica acabam sendo preocupações superficiais, ditadas pelos outros, pelas aparências.
Quando a gente perde o medo da morte (pelo menos o pavor e o evitar falar sobre, como se não existisse), porém, cuidar de si e fazer o que se gosta tornam-se coisas simplesmente boas e prazerosas. Como deve ser a vida. Aliás, aquela bronca "vá cuidar da sua vida" é de uma sabedoria gritante e mais pertinente se torna no início do entardecer de cada um.
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