Outro dia, conversando com um amigo historiador, falamos do homem cordial de Sérgio Buarque, em como ele faz parte da nossa cultura nacional. Daí vêm os convites para tomar café que nunca se realizarão e as propostas meramente retóricas que tanta gente faz. Para agradar o outro, mas principalmente para criar uma imagem/persona agradável.
Outro dia, ainda, uma amiga comentou como ela está aprendendo a dizer não sem ter que dar maiores explicações. Ou seja, como está se desvencilhando da mera cordialidade, que acontece quando, querendo dizer não, dizemos sim para agradar/parecer agradável.
O conhecido do meu cabeleireiro é um senhor japonês, portanto tem menos dificuldade com simplesmente dizer não, embora ainda careça dar explicações em nome do bom convívio. Eu, embora tenha parte das minhas raízes no distante solo nipônico, tenho dificuldade com dizer não imediatamente. Sempre disse muito sim, e só agora percebo que se, de um lado, isso possibilita um fluxo mais aberto às coisas da vida (ser a tal "pessoa positiva"), por outro lado, algumas vezes se torna uma agressão a mim mesma. Como disse em outro post, sou da turma das pessoas-cães, que necessitam de aprovação, e tem hora que quero só gritar não e me ouço dizendo sim (também já falei disso no post sobre o pretinho básico).
Tenho vivido nos últimos tempos a situação de dizer sim a diferentes pessoas e depois perceber que tinha de dizer não. Ao não, costumam se seguir os queixumes. Vem o frio na barriga, em escalas variadas a depender dos envolvidos, diante da possibilidade de retaliações. Ultimamente tenho mudado a perspectiva para avaliar a situação - olho para o outro dando a ele a importância que me dá. E isso facilita horrores a tomada de decisão: em vez de simplesmente lhe dizer não, escolho dizer sim para mim. É difícil. Muitas vezes, é imensamente mais trabalhoso do que dizer não para o outro.
Por uma questão de coerência interna, resolvi continuar dizendo sim, mas sobretudo para a pessoa mais importante da minha vida: eu.
Por uma questão de coerência interna, resolvi continuar dizendo sim, mas sobretudo para a pessoa mais importante da minha vida: eu.
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