É mais fácil aceitar o (supostamente) igual. É difícil que nos aceitem exatamente como somos. São princípios da existência humana.
Não faz muito tempo, descobri a farsa da alteridade. Eu acreditava muito nela, como educadora. De que era possível se colocar no lugar do outro. Não é. Há muito dificuldade em aceitar que o outro é diferente, outro planeta totalmente diverso de nós, e que mesmo assim é possível (se assim se desejar) exercer a tolerância, a aceitação. Uma arte dificílima, que pouca gente está a fim (se souber do que se trata) de praticar.
Já falei aqui do pretinho básico, de como tentamos nos adaptar a várias situações. Acho a adaptação outra arte, fundamental, inclusive parte do currículo da convivência. Mas não vale a pena quando temos de deixar de ser quem somos, de dizer o que pensamos, só para agradar os outros. E são coisas que fazemos tão pouco a pouco, tão devagarzinho, tão naturalmente, que nem percebemos quando não estamos mais felizes, quando não nos reconhecemos no espelho. Eu já ouvi muita gente dizendo que queria me ver bêbada ou que eu devia fumar unzinho. Enchi a cara uma ou outra vez, mais por acompanhar o outro do que por qualquer outro motivo, e sempre me senti mal depois - acredito, aliás, que os excessos impedem que saboreemos qualquer coisa, pois nos fazem perder o paladar e, consequentemente, o prazer. Não vou ficar tentando adivinhar o que pretendiam as pessoas que me desejavam isso, mas uma coisa é certa: queriam que eu fosse diferente, mesmo por alguns momentos, do que sou. A tal dificuldade, mesmo eventual, de aceitação.
E quanta energia é gasta querendo mudar alguém! Pois isso significa não seguir o fluxo natural das coisas, não "deixar rolar". E deixar rolar não significa deixar de cultivar os relacionamentos, como flores que são. Afinal, se o sentimento da "diferenciação" deve ser natural, o convívio com o diferente exige esforço. E sem o convívio morremos, de todas as formas. Nesses desafios é que reside (ou deveria residir) a beleza de sermos humanos.
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