domingo, 18 de março de 2012

Muito sem graça

Pois o mundo e as pessoas andam muito sem graça. Aliás, vejam como aquilo que é gracioso, gratuito, engraçado é aguerridamente combatido (já falei aqui também do combate à alegria) - o que serve logo de alimento para a imaginação, pois é como se um rinoceronte enlouquecido avançasse sobre uma pluma que descesse rodopiando do céu.
É assim que vejo a graça: algo leve, delicado, que chega de lugar nenhum, de modo inesperado, e pode ser levado pelo vento do mesmo modo - e a imagem nem é minha, mas da primeira e última cenas de Forrest Gump, e já foi citada por um "especialista em graça", Philip Yancey.
Antes que alguém pense que vou fazer uma pregação, aviso que meu comentário não é religioso ou teológico, mas ético. O desgraciosismo atinge todas as esferas da vida humana, todo tipo de relação - e as notícias da TV estão aí para atestar isso, o fascínio pela desgraça alheia.
Outra noite, um casal de amigos queridos (num lugar de nome "esperança", vejam só) comentava como havia tentado promover um evento gratuito de cinema, e como o público era desrespeitoso - as pessoas chegavam atrasadas e saíam sem cerimônia no meio da sessão. Pode ser porque os filmes não agradassem, mas provavelmente teve a ver também com o fato de a maioria não estar preparada para receber algo gratuitamente. Por incrível que pareça, receber é uma tarefa difícil, porque pressupõe confiar, atribuir valor a quem concede (mesmo que nada seja pedido). Afinal, por que valorizar o que vem de graça, perder a oportunidade de mostrar o poder de compra, de conquista - a disputa? Quem concede deve estar querendo algo em troca, não está? Não mesmo?
Eu não sou nenhuma Madre Teresa, mas acredito, como um certo profeta das ruas cariocas, que gentileza gera gentileza. E assim já fui atropelada várias vezes pela desconfiança alheia - está sorrindo por quê? Desse jeitinho mesmo, quase uma bofetada que faz o choro subir aos olhos. Por outro lado, já fui agraciada por gente que encontrei uma só vez antes de nos separarmos na poeira dos caminhos. 
Sim, devemos ter cuidado, ser menos ingênuos, desconfiar mais - e as pessoas "capazes de tudo" que encontro por aí não me deixam esquecer disso. Mas (e também já disse isso), como quero uma bagagem leve para ir mais longe, deixo para trás o rinoceronte em surto e fico com a pluma.

5 comentários:

  1. Oi, Sô! acredito piamente nessa máxima, e como um sorriso, uma gentileza muda o dia da gente. Ultimamente estou fazendo esse exercício de alma diário: respirar fundo, desviar-me do rinoceronte enfurecido e abrir espaço para o balé da pluma.

    beijos!!! saudades!!!

    P.S.: Outro dia estava contando pra uns amigos da sua tirada da "máscara do pânico", lembra? Rimos muito!

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    1. kkkkkk
      ainda tenho a máscara, Tam! mas guardo só para situações extremas. :)
      saudades também - qualquer hora vamos marcar um cafezito?
      beijocas,

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  2. Ah, quero muito marcar este cafezito... Que tal num finds?

    bjs

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  3. o finds acaba sendo mais complicado. durante a semana é ruim? na quinta estou pros lados da USP.
    bjs

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  4. Nossa, agora que li sua resposta (voltando à vida normal, ufa!). Vamos marcar na outra quinta? Pode ser pros lados da USP.

    beijos

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