sexta-feira, 30 de março de 2012

Mercúrio retrógrado

A culpa só pode ser de Mercúrio.
Quando as comunicações ficam truncadas, a responsabilidade é do pequenino. E um jeito de ele chamar a atenção, já que é tão pequeno, é fazer bagunça. Ou birra, porque imagino-o se recolhendo (retrogradando) no quarto, batendo a porta, como menino mimado. Certamente, teve um dedinho de Mercúrio na história da torre de Babel...
Ou então o baleês é a nova língua oficial, e ninguém me avisou. Por isso é que fico um tempão tentando explicar uma coisa, escolhendo a palavra mais exata, e recebo respostas estapafúrdias. Ou não, porque na verdade são dadas em baleês. E aí a culpa é minha, porque não domino o idioma.
E provavelmente a nova língua é mais enxuta que o português arcaico que falo, e por isso as pessoas sentem menos necessidade de explicar, usam frases curtas e tal.
Foi o que aconteceu um dia numa loja da Centauro, onde fui trocar uma camisa de Guga - a gerente, em baleês, me disse apenas que não dava para fazer a troca. Quando viu, porém, que eu não falava a língua e parecia carecer de mais explicações, condoeu-se e acabou dizendo em português que eles até concediam mais 15 dias além dos 30 de praxe, mas, uma vez que a compra tinha sido feita no dia x, não era mais possível, que pena etc. Bem, como a matemática é uma linguagem universal, fiz as contas mentalmente e disse a ela: mas hoje é o 45o dia! então podemos fazer a troca.
E nossa comunicação cessou. Subitamente. Como se alguém tivesse arrancado o fio do telefone da parede (cena ainda clássica de cinema, mesmo em tempos de wireless, wi-fi e tal).
Fazia tempo que não me sentia tão odiada por alguém. A mulher emudecida foi até o computador, viu que eu tinha razão e passou a camisa para uma subalterna. Só quando perguntei se "tinha dado certo" ela respondeu que eu podia trocar a camisa. Mas parecia doer muito nela, e ela sumiu. Que pena. Quase doeu em mim.
Tudo culpa de Mercúrio. Ou do baleês?

4 comentários:

  1. Culpa da Solange, que irritantemente serena não se deixou abalar pelo baleês e manteve-se fiel à sua lógica irrepreensível.
    Ai que raiva!

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  2. kkkkk
    eu até pensei nessa terceira hipótese, mas nem ousei escrever - com certeza foi o que ela pensou (não com suas palavras bonitas, né, Creia?)!
    beijos, querida, e até loguinho!

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  3. É, Solange, acho que cada um de nós terminaria falando idioletos incompreensíveis se dependesse de Mercúrio... Mas por sorte (ou azar) a lógica é a do planeta Mercado, que impõe um mínimo de consenso e comunicação, ;)

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    1. Sim, Marco, e só por isso rolou a troca. hehehe
      abraços,

      Solange

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