terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Para onde vão os noias?

Nos últimos tempos, pelo menos duas ações político-eleitoreiras deram na cara sua morte despudorada na praia. Uma delas foi a tal da lei da faixa de pedestres - se durante duas semanas assistimos a uma certa confusão no trânsito, entre a meia dúzia de motoristas seguidores da lei, os demais que consideravam tudo babaquice e os pedestres assustados, que não sabiam se podiam ou não atravessar, hoje não há motorista que se digne a olhar para o lado na hora de meter o pé no acelerador em cima da faixa de travessia.
A outra ação eleitoreira tem efeitos muito mais graves. A prefeitura de São Paulo tinha já, no primeiro mandato de Kassab, expulsado os noias da Cracolândia clássica, no Jardim da Luz, para os Campos Elíseos, a fim de restabelecer o antigo (bem antigo) glamour da região, que foi aparelhada com a Sala São Paulo e o Museu da Língua Portuguesa, além de reformas na Pinacoteca do Estado e na estação da Luz. Agora o governo estadual resolveu contribuir, enxotando os noias para todos os cantos da cidade.
Já perceberam como não se fala mais na heroica ação policial? Pois eu digo a vocês que em plena luz do dia é possível cruzar com grupos de mortos vivos em várias ruas do centro, da República, Santa Cecília, Consolação e - tremeis, bem-aventurados - Higienópolis. Um dia desses, indo levar roupas à tinturaria, vi meia dúzia de pessoas fumando crack na alameda Nothman, por volta das 11h, enquanto os seguranças da Funarte e os lojistas apenas assistiam à cena.
E agora, Geraldo? Que me diz, Gilberto? Dispersos os noias, dissipou-se o problema? Mais me parece que essa dispersão geográfica só vai ampliar a área de atuação dos traficantes, fazer mais vítimas do vício e reduzir cada vez mais a liberdade de ir e vir dos outros cidadãos.

4 comentários:

  1. Cara, se vc retomar uma série de outras "medidas" recentes, como, por exemplo, a polícia truculenta no campus da USP, já bem antes do episódio que foi fartamente televisionado ano passado, ou como o modo de produzir reintegrações de posse (o termo deveria ser "de propriedade"...), ou como as "leis do silêncio" que têm deixado esta megalópole deserta em torno da meia noite..., dá pra fazer a hipótese de que o lance da dispersão dos noias da Cracolândia é só mais uma "medida" com vistas a reduzir cada vez mais a liberdade de ir e vir dos cidadãos. Tô pra ver quem me convence de outra coisa. É a treva!

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    1. Sabe em que isso tudo me faz pensar, Lu? Que tornamos real a ficção de Fernando Meireles no Ensaio sobre a cegueira, mas sem poesia, sem lições, pura treva mesmo.

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  2. Mudar as pessoas de lugar, dissipá-las, separá-las. Como a rampa antimendigo na Av. Paulista. O que é aquilo? É preciso dinheiro para cuidar daquelas pessoas, tratá-las, tirá-las daquela vida morta. É preciso tratar de todas, com urgência. Quando o Governo vai por a mão no bolso para isso?

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    1. Parece, nas contas burras do governo, que sai mais barato construir obstáculos àquilo que incomoda do que cuidar da doença social. Mas, infelizmente, nós sabemos que o resultado disso só é bom para os próprios políticos, que capitalizam a desgraça alheia a cada eleição. beijos, Fá!

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