Reli há pouco um texto que escrevi há dez anos, "Amar".
Fazer essas releituras não é só importante do ponto de vista estético - o que melhorou, o que se perdeu no jeito de escrever -, mas principalmente quanto à visão do mundo - que temos esperança de ver ampliada.
Ainda concordo que amar não é fácil e faz a gente se perguntar se não é melhor ficarmos sozinhos com nossa solidão, e também que exige coragem e fé e muito talento para recomeçar.
Hoje, porém, não acho mais que acabamos topando tudo por amor - sofrer, engordar ou emagrecer muito, chorar, se decepcionar. As decepções vêm sim, quanto maiores são as nossas expectativas com o outro (isso em qualquer relação), e até choramos por isso. Mas daí a achar naturais o descaso, o descomprometimento, a dor... Esta só mantém com o amor uma relação fonética, e mais nada.
O amor me parece tão mais fácil hoje - menos terrível, menos ofuscante. E mais revelador: uma espécie de milagre cotidiano, prazer nas pequenas gentilezas e descobertas conjuntas. Até faz engordar um pouquinho, mas porque provoca apetite pela vida. Parece que só por amor a alguém ou a uma causa descobrimos do que somos capazes.
Hoje seria mais econômica e enfática: amar é muito bom!
terça-feira, 13 de setembro de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Verde e rosa
É mesmo engraçado que em um país tropical as pessoas tenham tanta parcimônia em usar a cor. Eu mesma adoro comprar roupas quando vou ao Rio ou a Salvador, só para ter peças mais alegres, mais de acordo com minha alma brasileiríssima - mesmo que aos olhos estrangeiros mais descuidados eu não pareça tão brasileira assim (afinal, não sou negra, nem sou índia!).
Aliás, é a uma importância demasiada aos olhos alheios, à opinião dos outros, que atribuo essa vergonha de se mostrar como é, tão comum entre os brasileiros. Cada vez mais (e isso tem a ver também com a tal globalização, que pode libertar pelo acesso ao conhecimento, mas também cercear pela imposição de padrões) nos parecemos com os estrangeiros - que, por sua vez, nos veem como um povo "solar". Em São Paulo, quando chega aquele frio de bater o queixo, como é raro encontrar o vermelho e o amarelo nas ruas! Quando acontece, faz lembrar uma gravura de Goeldi - uma solitária mancha de cor em meio ao black total.
Nada contra o preto, que também adoro. Mas se é verdade que expressamos nossa alma, nossa personalidade com o que vestimos, o que queremos mostrar quando nos vestimos todos da mesma forma, com uma mesma cor? Ou será que queremos apenas nos esconder?
Meu amigo Márcio Ito, estilista e professor de moda, faz o resumo da ópera com perfeição. Leiam o delicioso artigo de quem entende:
http://www.diaadiarevista.com.br/Noticia/7266/aquarela-do-brasil/
Ah, sim: adoro verde e rosa, juntos.
Aliás, é a uma importância demasiada aos olhos alheios, à opinião dos outros, que atribuo essa vergonha de se mostrar como é, tão comum entre os brasileiros. Cada vez mais (e isso tem a ver também com a tal globalização, que pode libertar pelo acesso ao conhecimento, mas também cercear pela imposição de padrões) nos parecemos com os estrangeiros - que, por sua vez, nos veem como um povo "solar". Em São Paulo, quando chega aquele frio de bater o queixo, como é raro encontrar o vermelho e o amarelo nas ruas! Quando acontece, faz lembrar uma gravura de Goeldi - uma solitária mancha de cor em meio ao black total.
Nada contra o preto, que também adoro. Mas se é verdade que expressamos nossa alma, nossa personalidade com o que vestimos, o que queremos mostrar quando nos vestimos todos da mesma forma, com uma mesma cor? Ou será que queremos apenas nos esconder?
Meu amigo Márcio Ito, estilista e professor de moda, faz o resumo da ópera com perfeição. Leiam o delicioso artigo de quem entende:
http://www.diaadiarevista.com.br/Noticia/7266/aquarela-do-brasil/
Ah, sim: adoro verde e rosa, juntos.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Uma empresa na contracorrente
Ih, não pense que aí vem elogio! Desta vez, a contracorrente é no mau sentido.
Imagine que fui à Cacau Show da rua das Palmeiras para comprar um mimo de dia dos namorados e o produto estava estragado - o creme de trufa parecia um torrone, com aparência deplorável!
Fui trocar o dito cujo e ouvi das atendentes (pobres moças que não devem conhecer seus direitos) que a Cacau Show não troca os produtos estragados na hora, que é preciso ligar para o SAC (benditos SAC e centrais telefônicas, que tiram das empresas a responsabilidade da resolução imediata e fazem os consumidores desistirem das reclamações!) para obter um número de protocolo e só então trocar o produto. Quer dizer que se eu entrar na loja, comprar uma trufa e ela estiver estragada, ninguém vai trocá-la para mim, porque as mocinhas, como bem me disseram, "só cumprem ordens". E se as mocinhas fizerem a troca, terão de pagar o "prejuízo" do seu bolso. Bizarro.
Eu disse que era para o dia dos namorados, certo? Então qual o sentido de esperar para trocar um produto comestível que seria dado de presente numa determinada data (no dia seguinte, para ser mais específica)? Eu até entenderia se o produto tivesse repentinamente saído de linha, acabado, se fosse necessário buscar em outra loja etc. Mas havia vários na prateleira.
A conclusão a que chego é que a Cacau Show, apesar do êxito empresarial que até rendeu uma publicação de "receita de sucesso", caminha na direção oposta de quem trata seu cliente com seriedade.
De qualquer forma, embora não aprove seu modus operandi, estou concedendo à empresa o benefício da dúvida (entrei em contato com o SAC pela internet e vou publicar aqui o resultado). Parece-me estranho, porém, que não haja o telefone do SAC na embalagem do produto (por isso acessei a internet). Economia de caracteres, esquecimento ou conveniência?
Imagine que fui à Cacau Show da rua das Palmeiras para comprar um mimo de dia dos namorados e o produto estava estragado - o creme de trufa parecia um torrone, com aparência deplorável!
Fui trocar o dito cujo e ouvi das atendentes (pobres moças que não devem conhecer seus direitos) que a Cacau Show não troca os produtos estragados na hora, que é preciso ligar para o SAC (benditos SAC e centrais telefônicas, que tiram das empresas a responsabilidade da resolução imediata e fazem os consumidores desistirem das reclamações!) para obter um número de protocolo e só então trocar o produto. Quer dizer que se eu entrar na loja, comprar uma trufa e ela estiver estragada, ninguém vai trocá-la para mim, porque as mocinhas, como bem me disseram, "só cumprem ordens". E se as mocinhas fizerem a troca, terão de pagar o "prejuízo" do seu bolso. Bizarro.
Eu disse que era para o dia dos namorados, certo? Então qual o sentido de esperar para trocar um produto comestível que seria dado de presente numa determinada data (no dia seguinte, para ser mais específica)? Eu até entenderia se o produto tivesse repentinamente saído de linha, acabado, se fosse necessário buscar em outra loja etc. Mas havia vários na prateleira.
A conclusão a que chego é que a Cacau Show, apesar do êxito empresarial que até rendeu uma publicação de "receita de sucesso", caminha na direção oposta de quem trata seu cliente com seriedade.
De qualquer forma, embora não aprove seu modus operandi, estou concedendo à empresa o benefício da dúvida (entrei em contato com o SAC pela internet e vou publicar aqui o resultado). Parece-me estranho, porém, que não haja o telefone do SAC na embalagem do produto (por isso acessei a internet). Economia de caracteres, esquecimento ou conveniência?
domingo, 23 de janeiro de 2011
Tristeza tem fim sim
Acho curioso como tantas pessoas parecem considerar mais fácil ser triste do que ser alegre. Tem mesmo gente que cultiva a tristeza – e de lambuja o mau humor, a rabugice, as reclamações infindas. Se tudo estiver bem é porque algo vai mal. Vejo muitos exemplos no dia a dia.
Já Vinicius defendia o contrário, que “alegria é melhor coisa que existe”, com exceção da tristeza necessária para se fazer um samba. Tristura coberta de lirismo pode ser belíssima, como a que vemos, por exemplo, na animação O mágico, de Sylvain Chomet (o mesmo diretor de As bicicletas de Belleville). O mágico de trejeitos jacquestatianos nos emociona com sua triste contemplação da vida que passa e também desabrocha.
Certamente, há lugar e momento para tudo – e a tristeza é um sinal de que estamos vivos, de que temos possibilidade de crescer com a dor, com a crise. É preciso volta e meia e por algum tempo “viver o luto”.
Mas é a alegria que traz o renovo, e por isso talvez seja tão temida/evitada. Em O nome da rosa, que eu e Guga relembramos numa conversa um dia desses, ela é um subtema importante: uma obra sobre o riso, metonímia do conhecimento, é algo que se deve calar e em nome dela crimes misteriosos acontecem numa abadia medieval.
Além disso, para aumentar seu potencial ameaçador, a alegria, e o que mais derivar dela, é contagiante. Por isso é tão mais fácil ser alegre – é um estado que pode principiar sem motivo aparente, só porque colhemos um sorriso no caminho, ouvimos alguém cantando, vimos uma criança acarinhando o rosto da mãe, sentimos um cheiro de fruta no meio da cidade cinzenta. O engraçado é que, mesmo assim, muita gente se sente culpada por sentir alegria. E aí fecha a cara, se esconde do sol brilhando lá fora.
E existem, como já disse, os adeptos da rabugice pura e simples, como o casal jovenzinho que também assistia à animação de Chomet: diante das manifestações emocionadas das poucas crianças presentes na sessão, parecia que eles iam explodir ao disparar “psius” atômicos contra os circunstantes. Cá entre nós? Eles não conseguiram atingir ninguém.
Já Vinicius defendia o contrário, que “alegria é melhor coisa que existe”, com exceção da tristeza necessária para se fazer um samba. Tristura coberta de lirismo pode ser belíssima, como a que vemos, por exemplo, na animação O mágico, de Sylvain Chomet (o mesmo diretor de As bicicletas de Belleville). O mágico de trejeitos jacquestatianos nos emociona com sua triste contemplação da vida que passa e também desabrocha.
Certamente, há lugar e momento para tudo – e a tristeza é um sinal de que estamos vivos, de que temos possibilidade de crescer com a dor, com a crise. É preciso volta e meia e por algum tempo “viver o luto”.
Mas é a alegria que traz o renovo, e por isso talvez seja tão temida/evitada. Em O nome da rosa, que eu e Guga relembramos numa conversa um dia desses, ela é um subtema importante: uma obra sobre o riso, metonímia do conhecimento, é algo que se deve calar e em nome dela crimes misteriosos acontecem numa abadia medieval.
Além disso, para aumentar seu potencial ameaçador, a alegria, e o que mais derivar dela, é contagiante. Por isso é tão mais fácil ser alegre – é um estado que pode principiar sem motivo aparente, só porque colhemos um sorriso no caminho, ouvimos alguém cantando, vimos uma criança acarinhando o rosto da mãe, sentimos um cheiro de fruta no meio da cidade cinzenta. O engraçado é que, mesmo assim, muita gente se sente culpada por sentir alegria. E aí fecha a cara, se esconde do sol brilhando lá fora.
E existem, como já disse, os adeptos da rabugice pura e simples, como o casal jovenzinho que também assistia à animação de Chomet: diante das manifestações emocionadas das poucas crianças presentes na sessão, parecia que eles iam explodir ao disparar “psius” atômicos contra os circunstantes. Cá entre nós? Eles não conseguiram atingir ninguém.
Assinar:
Postagens (Atom)