domingo, 23 de janeiro de 2011

Tristeza tem fim sim

Acho curioso como tantas pessoas parecem considerar mais fácil ser triste do que ser alegre. Tem mesmo gente que cultiva a tristeza – e de lambuja o mau humor, a rabugice, as reclamações infindas. Se tudo estiver bem é porque algo vai mal. Vejo muitos exemplos no dia a dia.
Já Vinicius defendia o contrário, que “alegria é melhor coisa que existe”, com exceção da tristeza necessária para se fazer um samba. Tristura coberta de lirismo pode ser belíssima, como a que vemos, por exemplo, na animação O mágico, de Sylvain Chomet (o mesmo diretor de As bicicletas de Belleville). O mágico de trejeitos jacquestatianos nos emociona com sua triste contemplação da vida que passa e também desabrocha.
Certamente, há lugar e momento para tudo – e a tristeza é um sinal de que estamos vivos, de que temos possibilidade de crescer com a dor, com a crise. É preciso volta e meia e por algum tempo “viver o luto”.
Mas é a alegria que traz o renovo, e por isso talvez seja tão temida/evitada. Em O nome da rosa, que eu e Guga relembramos numa conversa um dia desses, ela é um subtema importante: uma obra sobre o riso, metonímia do conhecimento, é algo que se deve calar e em nome dela crimes misteriosos acontecem numa abadia medieval.
Além disso, para aumentar seu potencial ameaçador, a alegria, e o que mais derivar dela, é contagiante. Por isso é tão mais fácil ser alegre – é um estado que pode principiar sem motivo aparente, só porque colhemos um sorriso no caminho, ouvimos alguém cantando, vimos uma criança acarinhando o rosto da mãe, sentimos um cheiro de fruta no meio da cidade cinzenta. O engraçado é que, mesmo assim, muita gente se sente culpada por sentir alegria. E aí fecha a cara, se esconde do sol brilhando lá fora.
E existem, como já disse, os adeptos da rabugice pura e simples, como o casal jovenzinho que também assistia à animação de Chomet: diante das manifestações emocionadas das poucas crianças presentes na sessão, parecia que eles iam explodir ao disparar “psius” atômicos contra os circunstantes. Cá entre nós? Eles não conseguiram atingir ninguém.

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