É mesmo engraçado que em um país tropical as pessoas tenham tanta parcimônia em usar a cor. Eu mesma adoro comprar roupas quando vou ao Rio ou a Salvador, só para ter peças mais alegres, mais de acordo com minha alma brasileiríssima - mesmo que aos olhos estrangeiros mais descuidados eu não pareça tão brasileira assim (afinal, não sou negra, nem sou índia!).
Aliás, é a uma importância demasiada aos olhos alheios, à opinião dos outros, que atribuo essa vergonha de se mostrar como é, tão comum entre os brasileiros. Cada vez mais (e isso tem a ver também com a tal globalização, que pode libertar pelo acesso ao conhecimento, mas também cercear pela imposição de padrões) nos parecemos com os estrangeiros - que, por sua vez, nos veem como um povo "solar". Em São Paulo, quando chega aquele frio de bater o queixo, como é raro encontrar o vermelho e o amarelo nas ruas! Quando acontece, faz lembrar uma gravura de Goeldi - uma solitária mancha de cor em meio ao black total.
Nada contra o preto, que também adoro. Mas se é verdade que expressamos nossa alma, nossa personalidade com o que vestimos, o que queremos mostrar quando nos vestimos todos da mesma forma, com uma mesma cor? Ou será que queremos apenas nos esconder?
Meu amigo Márcio Ito, estilista e professor de moda, faz o resumo da ópera com perfeição. Leiam o delicioso artigo de quem entende:
http://www.diaadiarevista.com.br/Noticia/7266/aquarela-do-brasil/
Ah, sim: adoro verde e rosa, juntos.
Verde e rosa é tudo de bom! Lindo mesmo.
ResponderExcluirE não é só porque evoca a Mangueira - aliás, coisa boa de evocar, né? Elegante sobretudo.
Essa recusa à cor é bem gozada mesmo... Ainda mais em São Paulo. Lembro-me sempre com espanto que, nos anos 90, quando dava aula num cursinho famoso, muitas vezes tive meu ibope rebaixado (sim, éramos sistematicamente ibopados, nossos salários tinham a ver com isso etc.) e as alegações de muitos alunos que davam "nota baixa" pra mim, pasme-se, eram coisas do tipo "se veste mal", "é daltônica", "tem mau gosto", ë se veste que nem vj da mtv... Eu usava calças cor de laranja, vermelhas, roxas, azul celeste - reles calças de sarja ou coisa parecida, nada demais. Tinha também uma bota verde (musgo!) que era muito falada, e uma sandalinha abóbora que parecia risível a muitos... As minhas cores eram insuportáveis a ponto de virar assunto também numa e outra reunião, é mole?! Mas o que me espantava pra valer não eram os colegas e chefes, na sua decrepitude anunciada, e sim os alunos, tão jovens quanto eu era... Menos alegres? Menos intensos? Menos capazes de pôr cor na vida? Dá o que pensar, né?
Lu, a ranzinzice de quem ainda é jovem é uma das coisas mais tristes de se ver - no que terão se transformado esses alunos, se não ousaram na idade mais propícia à ousadia?
ResponderExcluirProvavelmente, gente sem graça, acinzentada por preconceitos, de vida desbotada.
beijos cheios de cor e luz!
Nunca tive apelidos, mas teve época que um grupo da faculdade me chamava de colorex...
ResponderExcluirDetalhe: Faculdade de Artes Plasticas, curso de Arquitetura e Urbanismo... Até entenderia se o curso fosse direito! Mas para quem passou os 2 primeiros anos com grande carga horária na artes plásticas, no mínimo dá o que pensar também... Como será a arquitetura desse pessoal hoje em dia? Será que fazem arquitetura ou ao menos trabalham com projetos? Ludicidade?! Prá que?
É verdade que aposentei minhas calças da benetton... até porque se gastaram! Alias que saudades da minha calça verde... Não abro mão da cor em momento algum! O triste é acharmos casacos quentinhos com as cores que gosto! As vezes o jeito é partir para os acessórios... :(
Agora: que ridiculo rankearem pessoas, por vestes...
Kacauette,
ResponderExcluirainda faz parte de nossa cultura (e de boa parte da cultura mundial) julgar pela aparência, pelo uso correto dos talheres, por um comportamento socialmente (não eticamente) aceitável. Isso só torna mais importante a imaginação, o despertar da consciência, a liberdade de alguns. Não é?
beijocas da hermana,
Má