domingo, 13 de junho de 2010

Bizarras cenas hospitalares

Parece que as vocações estão mesmo (ou sempre) em pauta, inclusive como pano de fundo.
Na última sexta, estive na Santa Casa de Misericórdia para uma consulta de emergência com o clínico geral, já que a tosse canina teimava em não me deixar. Como queria descartar rapidamente a hipótese de uma pneumonia, lá fui eu, pronta para encarar horas de espera, mesmo em se tratando de um espaço reservado para "conveniados", e não reles mortais desprovidos de plano de saúde.
Que bom é ter saúde! Somente nessas horas de longa espera, burocracia e descaso é que nos damos conta de como ela é importante. Bom, esperei quatro horas para saber que não tinha pneumonia. E assisti a várias cenas bizarras. Primeiro, na sala de inaloterapia (lindo nome), uma enfermeira fez jorrar sangue do braço de uma paciente; uma outra profissional de saúde, provavelmente desafeto seu, disse aos presentes, assim que ela saiu para buscar mais gaze, que ela vivia dizendo que "nunca fazia besteira"; numa segunda saída da perfuradora de braços, incitou a paciente a reclamar junto à direção do hospital. E eu ali, com meu inalador, vendo tudo aquilo, literalmente sem respirar.
Depois de assistir por um bom tempo ao footing dos médicos, que pareciam não ter nada para fazer, embora houvesse cerca de 40 pessoas no local, vi o diretor do hospital chegando ligeiro, abrindo portas de consultórios e flagrando dois médicos no maior bate-papo num deles, a portas prudentemente fechadas. Parecia uma atitude louvável, colocar todo mundo para trabalhar, não fosse a grande coincidência, minutos depois, da chegada da equipe da Rede Globo, que se apropriou de um dos poucos consultórios para fazer dele uma locação, onde teve lugar uma entrevista para um dos noticiários da emissora.
Por fim, de posse dos exames de raio-X, quando fui atendida pela médica (que não era a mesma do primeiro atendimento, pois seu turno há muito já acabara), recebi a notícia de que não se tratava de pneumonia e também a receita de uma medicação que parece não existir. Explico: ela receitou fluimicil, o nome usado pelos genéricos da acetilcisteína, numa dosagem e formato que não encontrei em laboratório nenhum - comprimidos de 200 mg. Até onde pude ver, só há na forma de xarope, solução injetável e granulado. Claro, como não sou nenhuma especialista, pode haver alguma forma rara do medicamento, que poucos, como a doutora que me receitou, conhecem. Quem sabe?
De qualquer modo, saí de lá com a pergunta: o que será que levou essas pessoas em especial a escolherem a carreira médica? Amor pela humanidade é uma hipótese que, de saída, eu descartaria (com exceção de um único médico que vi ali, atendendo de forma incessante e paciente). Porque, com um pouco mais de capricho no roteiro, gritos nos corredores e maquiagem adequada, isso poderia ser um filme de terror. Ou, pelo menos, um episódio de CSI.

3 comentários:

  1. Sô!!
    Que horror essa história né! lembro-me do cursinho e daquele monte de gente dizendo que quer fazer medicina, eu mesmo já me perguntei diversas vezes se medicina realmente é o meu caminho ou seu eu escolhi por outros motivos, como a pura e espontânea pressão da família, por seguir a onda da febre do momento ou então por segurança de ter emprego e esse tipo de coisa mais material...
    Até hoje ainda penso se a medicina é realmente o meu caminho, mas me conformo sempre ao ouvir histórias como a do Luiz Felipe Pondé, que fez medicina mas acabou virando filósofo.
    Tenho muitas coisas para contar para vc, logo logo enviarei um e-mail com novidades!
    Beijos e até a próximaaa

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  2. Ai meu pai... E eu que achava que isso só acontece em cidades pequenas. Lá em Paraty vivemos várias situações desse tipo. Uma vez, eu, muito fraca depois de três dias de febre e vômito, fui, num sábado, à Santa Casa, onde me atendeu um médico com cara amassada e maus bofes, que teve o desplante de me dizer: – Por que vc vem agora, se ficou desde quarta assim? Viesse na segunda!
    Em outra ocasião, fui com o Maia, que estava com 40 C de febre, e o médico que o "atendeu" não se dignou sequer a olhar para a cara do coitado, quanto mais medir febre ou aulscutar o peito. Só disse: – Olha, isso é uma virose, tá até na internet. Vai pra casa e fica tomando dipirona.
    Não entendemos se ele falava de vírus de internet ou do quê. A sorte é que estávamos com viagem marcada pra São Paulo no mesmo dia e fomos direto pro HU, onde fizeram todos os exames e constataram que ele estava com pneumonia!!!

    O que fazer diante de tanto descaso? Há muitos médicos e enfermeiros realmente sérios, comprometidos, porém os maus profissionais parecem que se destacam, talvez não por serem maioria, mas por serem muuuuuito ruins, e continuam aí livres e leves, como se o que fazem não fosse passível de punição.

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  3. Gui e Tam,
    realmente esses casos são assustadores. Devem servir para a gente não perder o senso crítico, sobre nossas atitudes e as alheias. O consolo é sempre o de saber que há pessoas, mesmo poucas, que fazem tudo direito, com seriedade e amor. São elas que nos emocionam e ainda fazem parecer que a humanidade vale a pena, que não é um "caso perdido".

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