Minha amiga Eliane postou no FB uma entrevista dada pela escritora britânica Olivia Laing ao El País. Eu não conhecia Laing, mas gostei da temática sobre a qual ela tem escrito, a solidão. Fui atrás do livro outro dia (A cidade solitária: aventuras na arte de estar sozinho, da Anfiteatro, um selo da Rocco), e realmente é uma delícia a forma como ela articula a discussão sobre a solidão como fenômeno urbano com a obra de alguns artistas da literatura e das artes plásticas.
Mais que isso, Olivia Laing fala sobre as diversas solidões, o sentimento de se sentir sozinho mesmo em meio a muitas pessoas, o viver sozinho e não se sentir solitário, a solitude urbana.
Uma vez, conversando com Eliane sobre um novo relacionamento, ela comentou sobre o que lhe parecia ser minha solidão contínua, que naquele momento poderia ter fim. Aquilo soou um pouco estranho aos meus ouvidos, porque eu não me sentia solitária, mas logo entendi: ela aludia ao fato de eu ter vivido sozinha (mesmo estando em eventuais relacionamentos) por muitos anos, o que não significava, para mim, sofrer com a solidão. Na verdade, temo menos a solidão que a invasão.
Eu me senti sozinha algumas vezes, principalmente em momentos mais difíceis. Mas nunca me vi como uma pessoa solitária. Aprendi a gostar da minha companhia, gosto da liberdade que estar sozinha proporciona (embora, sendo eu mulher, ela tenha seus senões) e sempre cultivei as amizades. Posso dizer que experimentei quase todas essas solidões a que Olivia Laing se refere, umas mais, outras menos. Não me lembro, por exemplo, de alguma vez ter me sentido oprimida no meio da multidão, mas me fez falta conhecer meus vizinhos quando, certa ocasião, um ladrão invadiu o prédio onde eu morava - o terror que senti certamente seria aplacado se eu não estivesse sozinha. A união nos torna fortes, disso não há nenhuma dúvida. Ao fim de alguns relacionamentos, tive a sensação mais de abandono que de solidão, que realmente senti quando fui morar sozinha; foi quando veio aquela consciência súbita, agora sim, estou só, aqui, deitada no sofá-cama no meio desta sala ainda sem cortinas. Mas lidei com isso melhor do que esperava, claro que contando com o apoio de amigos, que logo vieram povoar qualquer vazio.
Via de regra, porém, aprecio os momentos de estar só comigo mesma. Indagar-me se está tudo bem, se o caminho que está sendo seguido é do meu agrado, se falta algo. Só para mim mesma posso admitir, perguntar e responder certas coisas. Posso simplesmente ficar em silêncio - o maior sinal de intimidade que há, no final das contas.
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