Eu tinha quinze anos quando ouvi da esposa de um primo, uma pessoa que eu havia acabado de conhecer, que ela admirava meu jeito “positivo” de ser. Na hora não entendi o que isso significava, mas percebi que se tratava de uma qualidade – pelo menos do ponto de vista dela, que devia ter vislumbrado em mim uma semelhante.
Essa questão de ponto de vista é fundamental, porque a positividade não é um atributo tão admirado assim. Ela provoca muitos melindres, isso porque o indivíduo de comportamento positivo, segundo o Houaiss, “não tergiversa”; é “objetivo, prático, resoluto”. De fato, em alguns casos, a depender da Lua, do humor e dos vizinhos, isso pode descambar numa franqueza algo assustadora. Mas não é, absolutamente, sinônimo de rudeza, e sim de uma grande sinceridade com os outros e consigo – do que, claro, decorre um preço alto a se pagar.
Nesses tempos de pouca honestidade, seja em nome do proveito próprio, seja por uma convenção social deturpada, julga-se sem apelação quem resolva simplesmente discordar, expressar sua instatisfação ou dizer a verdade. Discordar não quer dizer necessariamente desagregar: também faz parte do diálogo, da crítica, da construção de algo novo, de um consenso mais rico. De outro lado, muitas vezes concordar é apenas ecoar a ideia do outro, sem maiores reflexões – assentir e consentir em tudo, ao menos externamente, só para não se cansar demais.
Digo tudo isso porque, mesmo correndo o risco de ser tachada de inconveniente, continuo a arrogar meu direito de ter ideias próprias e de não me curvar a convenções sociais com as quais não concorde, de duvidar do longamente estabelecido, das tradições inventadas. Mais que tudo, defendo meu direito a uma consciência tranquila, que me permite caminhar pelo mundo com uma bagagem mais leve que a de muita gente...
So, sobre crítica acabei de ler um texto do Barthes, A crítica nem-nem, no MItologias. Vale a leitura.
ResponderExcluirSabe, o que muita me incomoda é quando você dá uma opinião sobre algo e ouve, geralmente, de quem você está discordando, que "o mundo é assim". Tá, pode ser que seja "assim", mas se eu não puder pensar sobre essa mundo para refletir e reinventá-lo, ele será sempre "assim" ou, pior, o mundo de quem diz a frase é "assim", e não se abre para perceber que a coisa não é bem "assim". Bueno, ser positivo é ser "pra cima", sempre de cabeça erguida, olhando pra frente. Gosto dessa atitude perante o mundo e a vida. Vamos lá, nesse domingo de sol!
A transparência e a honestidade que varias vezes "incomodam" (principalmente quem assim não o é) realmente é um alto preço a ser pago.
ResponderExcluirMuitas vezes quando fazemos algumas colocações, (exercendo tanto o direito civil de expor o que pensamos de maneira civilizada, por falar o que pensamos somos tachadas e e muitas vezes julgadas como "afetadinhas" ou mesmo "vc se queima facil"...
Na verdade, é o contrario!
O olhar impermeável a alma e ao " modus operandi" das pessoas, fazem com que a grande maioria julguem erroneamente uma pessoa por uma simples fala... Fala essa que transmite um pensar frente a fatos ou ocorrencias e nao a rancores....
Me pergunto: O pensamento raso, a falta de permeabilidade e percepção no outro é decorrência da falta da observação NO OUTRO ou se deve a FALTA de TRANSPARENCIA cultividada pela sociedade em que vivemos?!
bjs
Ka
Fá,
ResponderExcluirvou atrás desse texto do Barthes, de quem gosto muito. Valeu a dica!
Que postura pode combinar mais com um dia de sol a não ser a do olho no olho, de ser simplesmente verdadeiro?
beijos,
Sô
Ká querida,
ResponderExcluircertamente são as duas coisas! E o desafio é continuar alimentando uma postura autêntica nesse mundo do cada-um-por-si...
beijos,
Sô
Li e reli seu texto. Certamente pela sinceridade - hoje mais q. nunca sempre bem-vinda - tem uma leveza cativante, presente tb em outros textos seus. Como já disse Caetano: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", não é?
ResponderExcluirBjs
Fátima
Gosto sempre de trocar impressões contigo, nos nossos poucos encontros, sempre enriquecedores.
ResponderExcluirbeijos e bom final de semana,
Solange
Olá Solange. Sou Léo Wainer, psicólogo e ator do Rio de Janeiro. Tentando localizar pela internet o FLAVIO GOLDMAN, cheguei ao seu blog em uma postagem em que você escreve sobre uma peça da autoria dele e menciona sua amizade com êle. Estou tentando localizá-lo para ter acesso a dois textos que foram traduzidos por êle. Soube que êle estaria fora do Brasil. Será que você saberia e poderia me ajudar a fazer este contato com êle. Deixo aqui meus e-mails para seu retorno e alguns blogs para você ter uma referência a meu respeito agradecendo desde já. Amigavelmente, Léo Wainer.
ResponderExcluirleowainer@gmail.com
wainer@esquadro.com.br
www.wainerleo.blogspot.com
www.teatroparatimidos.blogspot.com
Leo, desculpe a demora em responder! Passei o contato para o Flavio!
ResponderExcluirabraços, e boa sorte.
Solange
Mana, li hoje seu texto e, como você já sabe, pois me conhece muito bem, concordo plenamente contigo. Pagamos um preço alto por dizermos aquilo que pensamos e sentimos, sem termos medo de desagradar quem quer que seja.
ResponderExcluirNão é fácil, mas fazer o contrário, apenas para não ir contra a corrente, corrompe nossos princípios e deixamos de ser indivíduos para sermos apenas mais um em meio à massa. Embora muitas vezes isso me prejudique, prefiro me insubordinar e discordar de atitudes absurdas a me idiotizar. Beijos.
Livinha