Nos últimos anos, muito tem se falado sobre a síndrome da impostora, algo que acomete muitas mulheres, senão a maioria de nós, fazendo com que tenhamos a sensação eterna de sermos insuficientes, insatisfatórias em tudo.
Sei que pode parecer a mesma coisa, mas eu usaria um outro termo, pelo menos mais adequado para mim - síndrome de infiltrada. É como me sinto muitas vezes, e estar infiltrada também remete à farsa, como a impostura.
Essa foi minha sensação quando fui fazer curso de ilustração com Odilon e Fernando, em meio a vários desenhistas talentosos. O mesmo quando fiz escola técnica, e no fundo sempre soube que não seguiria aquele caminho depois, mas terminei o curso. O que dizer do flamenco, que insisto em fazer, mesmo não decorando a sequência de passos? Quando, no curso de panificação, diziam que eu tinha "cara de especialista", eu queria mesmo era ser um avestruz. Que bom seria, pelo menos, ser uma fingidora poética, não uma farsante infiltrada.
Tudo isso é um pouco de exagero, claro, parte da minha herança mediterrânea. A parte oriental é que fica inconformada, mas eu tenho que explicar que nada disso é proposital. Como uma mariposa, vou atrás da luz, iludida e suicida. Às vezes, uma vidraça me impede de me queimar. Às vezes, sinto que encontrei minha turma, e a alegria é imensa. Mas tem sempre um "mas" que me faz questionar o que estou fazendo ali. Talvez a questão seja justamente não me fixar num grupo, por mais gregária que seja minha alma. Nem formiga, nem cigarra. Visitar mil jardins. Borboletear não pode ser tão mal assim, afinal.