terça-feira, 4 de agosto de 2020

Aonde vai a educação?

Nestes tempos loucos e sombrios, em que incerteza é a palavra de ordem, fico me perguntando, como tantos, para onde vai a educação. Mais até do que para onde vai a economia. A saúde, já vimos, foi pro ralo. A cultura, então, nem dá pra saber que caminho tomou. Estão tentando expurgar a ciência, mas esta resiste um pouco mais.
A educação me é tão cara porque ninguém nem nenhuma área pode prescindir dela. Ela é a base para a vida, a sobrevivência, a luta e a vitória diária, o desenvolvimento de uma cidade, um país, um planeta. Sem ela, a natureza definha, as pessoas se matam, os corruptos reinam, as crianças e os velhos adoecem. Por isso penso tanto nela nestes tempos de pandemia: aonde vai a educação depois disso tudo? Trôpega, atacada, achincalhada pela trupe bolsonarista?
Eu, que trabalho há anos na área, poucas vezes vi uma necessidade tão grande de mudança e adaptação. No Brasil, sobretudo, pela total falta de planejamento estratégico em qualquer área na atualidade, o que se viu foi o completo atabalhoamento nas práticas educativas, com professores e alunos tentando dar conta de uma nova realidade, a do ensino à distância.
Mesmo eu, mais ou menos acostumada com fazer cursos nessa modalidade, resolvi fazer um que me desse mais ferramentas para encampar os novos desafios, na área de design instrucional. Se não fossem a pandemia e as incertezas dela decorrentes, talvez não fizesse. No final das contas, está sendo interessante, fazer um curso por necessidade profissional pura e simples e não apenas porque "me fala ao coração". Talvez eu sempre tenha compreendido a educação como algo que vem do coração, de uma vocação quase poética, e quase não é mais assim em nenhum lugar, é preciso ter uma boa dose de pragmatismo na produção de conhecimento.
Isso é o que estes tempos duros e a nova educação pedem: pragmatismo. Sem perder a ternura e a poesia, mas pragmaticamente. 

Patrulha amiga, o fim

Acho patrulha uma coisa chatíssima por si. Inaceitável, na verdade. Gente que fica tomando conta da vida dos outros, dando palpites não pedidos, pitacando sobre tudo, um horror. Nas redes sociais, acontece demais, é quase a regra - opinionismo agora se encontrou com bolsonarismo, naquela forma de opinião non sense, sem argumentos plausíveis, puro dogma infernal. 
Já tive amigo ou conhecido dando pitaco nas minhas postagens, especialmente por questões políticas. Vejam: minhas postagens não são abertas a todos, apenas aos amigos, às pessoas que permiti que vissem o que posto. Mesmo assim, tem bizarrices, opiniões loucas não pedidas. A depender da pessoa, só ignoro para não perder a amizade ou cancelo mesmo. E isso porque também não posto coisas muito polêmicas, que dariam abertura aos palpites alheios.
Entre ontem e hoje, vivenciei um novo tipo de patrulha: amigos dos amigos. Começou com ter postado uma foto do ragu de shitake que fiz outro dia - bastou para o amigo de uma amiga, que nem me lembro como foi parar nos meus contatos, dizer que não era ragu, pelo amor de deus, que desse outro nome. Respondi uma bobagem qualquer e ele nem retrucou, tamanho era seu desejo de só causar na postagem alheia. Mais tarde, esse mesmo amigo da amiga apareceu na postagem de uma outra amiga (descobri que temos mais de uma amiga em comum, oh God) em que ela comentava comigo e com uma outra conhecida nossa uma polêmica envolvendo Lília Schwarcz e Beyoncé - isso porque falávamos disso ontem, e estávamos de acordo, as três, sobre a inadequação da fala de Schwarcz. Bueno, esse amigo terceirizado comentou na minha timeline, discordando da minha amiga. E o que se sucedeu foi uma enxurrada de amigos e conhecidos dela (inclusive uma moça que também invadiu outro dia um comentário meu sobre Walter Benjamin, totalmente despretensioso, para me corrigir e, quando viu que estava errada, nem se desculpou) bradando raivosamente em defesa da historiadora branca que resolveu dizer como a diva pop negra deveria se comportar em SEU trabalho, com SUA arte. Uma enxurrada branca, poderíamos dizer, histérica e indignada com as pessoas negras inconformadas com o papel relegado a elas pela branquitude. Como no episódio do programa Roda Viva em que a apresentadora demonstrou clara inquietação com o rapper Emicida ter uma marca de roupas "caras", como se uma pessoa negra que saiu da quebrada devesse ser para sempre pobre e malvestida.
No episódio Lília x Beyoncé, minha amiga teve a maior paciência para responder um a um com argumentos bem plausíveis, e ainda teve de ler uns rosnados de volta. Minha amiga é branca no sentido lato (já que é mediterrânea de pai e mãe), é doutora, é crítica de arte, é filósofa, é professora. Não é a Maria Mané da Perna Torta. Pode ter um quê de academicismo, mas tem senso de justiça, tem semancol. Achei tristíssimo que os integrantes da patrulha também sejam pessoas com boa formação, professores e tal. Que gastem sua indignação com algo tão menos importante (a defesa de Lília, como se ela de fato precisassse) do que a desigualdade social brasileira e o fato de estarmos chegando a 100 mil mortos no país desgovernado por um genocida.