domingo, 10 de maio de 2015

Maternidade

A essas alturas da vida, já sei: não serei mãe. E tudo bem. Não me considero uma aleijada. Acho que se foi o tempo em que era obrigatória a maternidade para uma mulher ser considerada completa.
Quer dizer, acho que esse tempo se foi, ou deveria ter ido (mesmo já havendo um termo para definir as mulheres que não querem ter filhos, a geração NoMo, quantos ataques as mulheres independentes ainda sofrem). Cansei de ouvir, já aos 15 anos, que precisava me casar e ter filhos. Depois, os familiares desistiram - viram que eu era "meio diferente", e alguns até apostavam, normalmente em silêncio, que eu era lésbica.
Eram duas coisas que não faziam muito sentido para mim: casar e ter filhos. Não como coisas que me causassem repulsa, mas como padrões que eu não me sentia obrigada a seguir - se rolassem, que ótimo. Mas eu nunca iria me sentir obrigada a uma e outra só porque "todo mundo faz assim".
E não que eu não desejasse um companheiro com quem dividir as aventuras da vida. Ou não gostasse de crianças, ou não tivesse um apurado senso maternal. Tanto é que adotei Chico e Zen, por essa necessidade de dar amor, de cuidar. Antes cheguei a pensar em adotar uma criança, mas a crise me fez colocar pé na realidade. Seja como for, só não me sinto presa às ideias alheias, pelo menos a essas duas (sobre convenções, já falei no Nem guerê nem pipoca).
Quando ouço aquelas frases feitas "mãe é mãe", "mãe é só uma" etc., imagino como isso facilita a vida das pessoas, que, desse modo, não precisam pensar sobre as tão complicadas relações familiares. Minha mãe, por exemplo, fez tudo o que podia por nós, mas não é possível colocá-la no mesmo balaio de todas as mães. Aquela história da "comida da mamãe" nunca rolou muito em casa, porque minha mãe trabalhava fora. Como ela fosse muito reservada, talvez até pudica, não me deu os primeiros toques sobre namorados, sexualidade ou até mesmo carreira a seguir. Fui percebendo isso na conversa de outras mães, com as filhas que eram minhas amigas.
Para minha mãe, o aprendizado materno deve ter sido difícil. Imagino que ela sonhasse com o príncipe encantado, no caso meu pai, que logo mostrou ter pouco de realeza. E ali estava ela, com três filhos para criar, sob a égide dos sogros. Apesar do amor que com certeza sentia, tinha dificuldade em demonstrar afeto - reflexo do que vivera na casa dos pais, com tantos irmãos - e por isso deve ter parecido ausente para meus irmãos. Eu mesma, muitas vezes, vi minha mãe mais como minha filha que outra coisa. Ela não se encaixa no modelão das propagandas de TV ou das mães dos meus amigos. Acho que ser mãe não é puramente fisiológico; embora a natureza tenha um papel importante, há o aprendizado que cada mulher absorve de um jeito. Amar também se aprende, e não há nada mais distante de regras sociais que isso.
Minha mãe tornou-se uma ótima avó, naquele sentido de permitir tudo aos netos, de expressar seu afeto com maior gratuidade. Eu virei mãe de dois gatos e sou mãe das minhas criações, dos meus projetos, que acalento cuidadosamente.
Tá tudo certo. Tá tudo ótimo. E feliz dia, mãe, não pelo que pregam as convenções, não pelo que você "representa", mas por quem você é.

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