Sou fã de carteirinha do Ivan Martins, editor que assina uma coluna semanal na Época, desde o primeiro texto que li, num momento crucial, daqueles de querer sair gritando e saber que ninguém vai ouvir. Era como se em vez de me ouvir aquele sujeito tivesse algo a me dizer, uma mensagem a entregar, escrita por alguém que entendia perfeitamente como eu estava me sentindo. Desde então, leio sua coluna toda santa quarta-feira.
Na última quarta, ele fez uma comparação lírica e pertinente entre pessoas e cidades. Dizia que cada pessoa é uma cidade, ou pode ser só um deserto varrido pelo vento, e que cabe a nós (também cidades repletas de peculiaridades) explorar esses territórios mais ou menos cheios de mistério.
Gosto dessa imagem. Também porque gosto do tema cidade, mas principalmente porque entendo bem o que é andar por desertos estéreis ou por ruelas suspeitas e escuras, e bem há pouco por uma paisagem que começa com casinhas coloridas e depois se descortina em planícies, montanhas e rios que parecem não ter fim. Às vezes acontece de na minha própria cidadela soprar um vento inesperado e indesejado (um passado sibilante querendo voltar). Outras vezes, a paisagem à minha frente, a que quero desbravar, se acinzenta, emudece (até os pássaros se calam), se esvazia. Somem as pontes e surgem muros sabe-se lá de onde. Por algum tempo fica assim, e então me sento à entrada esperando ser novamente bem-vinda...
Paisagens vivas, cidades cheias de histórias, belezas, solidões e segredos, é isso mesmo o que somos.
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