Nos últimos tempos, pelo menos duas ações político-eleitoreiras deram na cara sua morte despudorada na praia. Uma delas foi a tal da lei da faixa de pedestres - se durante duas semanas assistimos a uma certa confusão no trânsito, entre a meia dúzia de motoristas seguidores da lei, os demais que consideravam tudo babaquice e os pedestres assustados, que não sabiam se podiam ou não atravessar, hoje não há motorista que se digne a olhar para o lado na hora de meter o pé no acelerador em cima da faixa de travessia.
A outra ação eleitoreira tem efeitos muito mais graves. A prefeitura de São Paulo tinha já, no primeiro mandato de Kassab, expulsado os noias da Cracolândia clássica, no Jardim da Luz, para os Campos Elíseos, a fim de restabelecer o antigo (bem antigo) glamour da região, que foi aparelhada com a Sala São Paulo e o Museu da Língua Portuguesa, além de reformas na Pinacoteca do Estado e na estação da Luz. Agora o governo estadual resolveu contribuir, enxotando os noias para todos os cantos da cidade.
Já perceberam como não se fala mais na heroica ação policial? Pois eu digo a vocês que em plena luz do dia é possível cruzar com grupos de mortos vivos em várias ruas do centro, da República, Santa Cecília, Consolação e - tremeis, bem-aventurados - Higienópolis. Um dia desses, indo levar roupas à tinturaria, vi meia dúzia de pessoas fumando crack na alameda Nothman, por volta das 11h, enquanto os seguranças da Funarte e os lojistas apenas assistiam à cena.
E agora, Geraldo? Que me diz, Gilberto? Dispersos os noias, dissipou-se o problema? Mais me parece que essa dispersão geográfica só vai ampliar a área de atuação dos traficantes, fazer mais vítimas do vício e reduzir cada vez mais a liberdade de ir e vir dos outros cidadãos.