A liberdade tem limites. Tão claros, tão facilmente reconhecíveis que seu desconhecimento só pode estarrecer. "Liberdade" que fere, escarnece, ofende, mata não é liberdade, nem aqui, nem em lugar nenhum. Torna-se outra coisa qualquer, arma na mão de covardes, que a empunham em nome de uma suposta democracia, que lhes dá direito a fazer e dizer o que der na telha.
Assim é com a liberdade de expressão, toda retorcida por esse discurso pseudodemocrático que nos assombra. É o que "permite" a uma estudante de Direito de São Paulo escancarar na rede seu preconceito contra nordestinos - que tipo de profissional se espera de uma pessoa como essa? O disparate não poderia ser maior, em se tratando de alguém que deveria defender (ou pelo menos respeitar) os direitos humanos.
Hoje é possível dizer o que se quer em nome da liberdade de expressão. Quem se sentir ofendido que vá processar - um direito seu - o outro por injúria e difamação, que vá cobrar um tímido direito de resposta na TV. Se ao menos o nosso judiciário fosse tão ágil quanto a língua ferina de tantos! De novo, lá vem a impunidade acarinhar seus afilhados - difamadores, corruptos e covardes.
Podemos ser quem quisermos, mas não fazer ou dizer tudo que quisermos, sobretudo se isso tem consequências no âmbito coletivo (excluídos, obviamente, os moralismos, os incômodos com a existência do outro e toda sorte de coisa inútil). Para "regular" os comportamentos é que existe a ética; na falta dela, existe a lei. Se ambas faltarem, resta a voz dos inconformados. Se tudo isso faltar, é melhor pedirmos para apagarem a luz.