Todo mundo devia fazer apenas aquilo que lhe apraz quando se trata de escolher uma função social. Buscar a verdadeira vocação. Não como uma voz soprando em nossos ouvidos, mas algo mais concreto e honesto, parte de nós mesmos.
Quando o que fazemos cotidianamente parece pesar nos ombros, alguma coisa está errada. E não adianta só reclamar, empapuçando os ouvintes circundantes. É melhor perguntar a si mesmo o que deve ser feito e estar preparado para uma resposta sincera, mesmo que seja a de que se deve começar tudo de novo. Eu, por exemplo, descobri há algum tempo que não tenho a menor vocação para cobrar dos outros aquilo que é obviamente seu dever - é o tipo de coisa que me agasta. Talvez também por isso não sirva para ser chefe.
Ser feliz, de qualquer modo, é muito mais fácil do que parece. Praticamente matemático: se todo mundo resolver fazer bem o que escolheu fazer de melhor, sem prejuízo alheio, tudo será melhor. Não é uma maravilha? Não mais aguentar cara feia de atendentes de supermercado ou lojas, nem as lamentações eternas de quem não faz nada para mudar o modus operandi e o modus vivendi. Quem sabe chefes melhores, melhores subordinados, nenhuma vítima.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Essa tal sociabilidade
Ai, como é difícil o exercício da sociabilidade! Esse tal “domínio das regras de convivência”, para ficar apenas em uma acepção, pode ser extremamente cansativo.
Embora o exercício social envolva todos os componentes do grupo, às pessoas ditas “mais sociáveis” cabe normalmente a pesada tarefa de observar se todos ao redor estão bem acomodados e satisfeitos. Um pouco mais, e isso vira uma relação de mão única, uma obrigação dos mais descolados. Eles não podem ter mau humor, não podem ser irônicos nem querer tomar ar sozinhos. Afinal, eles são os responsáveis pela felicidade geral. Os menos sociáveis, assim, não precisam se esforçar, mas apenas viver à sombra do guarda-sol alheio e de vez em quando repetir uma piada que ouviram. Ou seja, ser sociável pode ser muito chato quando isso cabe a uns gatos pingados, porque o grupo perdeu a dimensão da sociabilidade (que é uma dimensão sempre coletiva) propriamente dita.
Isso tudo porque existe uma forte tendência humana à acomodação. É mais fácil esperar que alguém faça por nós do que fazermos nós mesmos. Um exemplo? O colega de escritório proativo resolve um dia oferecer-se para fazer o café. Uma vez, duas vezes, três: logo, ele será o fazedor oficial de café, e que não ouse se indispor à sua condição recém-adquirida. A gentileza de um, em lugar de ser imitada, é engolida pelo comodismo dos outros.
Imagine, então, o rumo desta prosa se aqui levarmos em conta o que diz Flavio Gikovate sobre a divisão das pessoas em generosas, egoístas e justas. Obviamente, a acomodação maior às situações se dá entre generosos e egoístas, tipos que se procuram mutuamente grande parte do tempo e que são, na verdade, muito parecidos – o egoísta alimenta a vaidade do generoso, e vice-versa. Os justos são os menos acomodados, porque vivem na corda bamba, a se desviar dos hábitos nocivos dos dois outros grupos, procurando tratar a todos com isonomia, sem posar de bonzinhos. São, por isso mesmo, mais raros e até malvistos por aí.
Sim, claro: somos todos diferentes, e que bom é isso – celebremos a diversidade! Seria horrível um mundo onde todos fossem iguais, quisessem fazer as mesmas coisas, executar as mesmas tarefas, falar ao mesmo tempo. O problema é que o sermos tão diferentes não nos exime de socialmente termos de desenvolver hábitos comuns pelo bem da coletividade e para sobrevivermos uns aos outros (a famigerada ética, que tem sido, infelizmente, substituída pelo politicamente correto). A gentileza (que é diferente da generosidade supracitada) é um bom começo. Não sermos autorreferenciais o tempo todo, uma fórmula mágica. Dela advém não esperarmos que os outros façam tudo por nós, que nos carreguem no colo, que não vivam sem nossa presença. Melhor ainda seria entender que a alteridade é exatamente aceitar que existe um outro, distinto de nós, e não que sejamos um só. Isso evitaria confusões, melindres e sofrimentos desnecessários.
15 de maio de 2010
Embora o exercício social envolva todos os componentes do grupo, às pessoas ditas “mais sociáveis” cabe normalmente a pesada tarefa de observar se todos ao redor estão bem acomodados e satisfeitos. Um pouco mais, e isso vira uma relação de mão única, uma obrigação dos mais descolados. Eles não podem ter mau humor, não podem ser irônicos nem querer tomar ar sozinhos. Afinal, eles são os responsáveis pela felicidade geral. Os menos sociáveis, assim, não precisam se esforçar, mas apenas viver à sombra do guarda-sol alheio e de vez em quando repetir uma piada que ouviram. Ou seja, ser sociável pode ser muito chato quando isso cabe a uns gatos pingados, porque o grupo perdeu a dimensão da sociabilidade (que é uma dimensão sempre coletiva) propriamente dita.
Isso tudo porque existe uma forte tendência humana à acomodação. É mais fácil esperar que alguém faça por nós do que fazermos nós mesmos. Um exemplo? O colega de escritório proativo resolve um dia oferecer-se para fazer o café. Uma vez, duas vezes, três: logo, ele será o fazedor oficial de café, e que não ouse se indispor à sua condição recém-adquirida. A gentileza de um, em lugar de ser imitada, é engolida pelo comodismo dos outros.
Imagine, então, o rumo desta prosa se aqui levarmos em conta o que diz Flavio Gikovate sobre a divisão das pessoas em generosas, egoístas e justas. Obviamente, a acomodação maior às situações se dá entre generosos e egoístas, tipos que se procuram mutuamente grande parte do tempo e que são, na verdade, muito parecidos – o egoísta alimenta a vaidade do generoso, e vice-versa. Os justos são os menos acomodados, porque vivem na corda bamba, a se desviar dos hábitos nocivos dos dois outros grupos, procurando tratar a todos com isonomia, sem posar de bonzinhos. São, por isso mesmo, mais raros e até malvistos por aí.
Sim, claro: somos todos diferentes, e que bom é isso – celebremos a diversidade! Seria horrível um mundo onde todos fossem iguais, quisessem fazer as mesmas coisas, executar as mesmas tarefas, falar ao mesmo tempo. O problema é que o sermos tão diferentes não nos exime de socialmente termos de desenvolver hábitos comuns pelo bem da coletividade e para sobrevivermos uns aos outros (a famigerada ética, que tem sido, infelizmente, substituída pelo politicamente correto). A gentileza (que é diferente da generosidade supracitada) é um bom começo. Não sermos autorreferenciais o tempo todo, uma fórmula mágica. Dela advém não esperarmos que os outros façam tudo por nós, que nos carreguem no colo, que não vivam sem nossa presença. Melhor ainda seria entender que a alteridade é exatamente aceitar que existe um outro, distinto de nós, e não que sejamos um só. Isso evitaria confusões, melindres e sofrimentos desnecessários.
15 de maio de 2010
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