Já faz algum tempo que se fala nas bolhas criadas pelas redes sociais, de como só nos relacionamos com nossos iguais, de como só lemos sobre o que nos interessa. Isso só aumentou ao longo do tempo; especialmente com a eleição do Biroliro, mas estava lá desde o golpe contra Dilma Roussef, e desde então temos visto o acirramento das posturas ultraconservadoras cindindo as relações sociais no país (pelo menos, podemos reconhecer claramente os comportamentos fascistas, já não mais ocultos sob o forçoso politicamente correto e a suposta democracia racial).
Embora seja muito mais confortável falar apenas com quem concorda com a gente, até porque é impossível dialogar com um bolsominion, fico pensando o que isso traz para as relações sociais no longo prazo (ou médio, ou até mesmo curto, já que tudo é tão rápido hoje). A possibilidade de troca com o diferente vai se reduzindo mais e mais. Quando os iguais discordam é normalmente por ninharias, como vejo nas redes sociais, nada de fato relevante, nada que valha para melhorar o mundo.
Imagino que, quanto mais tempo passarmos em nossas bolhas, menos tolerância teremos com as bolhas alheias (algumas merecidamente). Vamos nos evitar cada vez mais, estranhar cada vez mais as diferenças. A vida deve passar a ser um grande condomínio fechado, onde só entram os convidados, e todo o restante passa a ser visto como invasor.
Num cenário assim, pouco espaço resta para a solidariedade e a alteridade. Difícil imaginar dividir espaços físicos com os divergentes - e parece que até a pandemia veio colaborar com essa demarcação de limites. Só nos "aglomeramos" com poucos, os mais próximos, os mais confiáveis. Como no próprio conceito de "nação", tudo o que está fora disso, desses limites, não merece nossa credibilidade.
Difícil arriscar muitos prognósticos a partir desse cenário, mas as perspectivas por ora não são das mais animadoras.