O que seria da vida se não tivéssemos insights de vez em quando? OK, deve haver muita gente que não dá ouvidos a esses pensamentos que fazem cócega no espírito, parecendo ter origem na mente, mas certamente irradiados do coração (num sentido mais amplo que o de órgão muscular bombeador de sangue).
Eu tenho cada vez mais valorizado os meus. E um dos últimos foi justamente acerca da vida, de tanto ouvir projetos alheios a respeito dela. Muitas pessoas querem ser donas de sua vida, como se isso não estivesse pressuposto. O problema é o que fazemos dessa "propriedade" de viver enquanto vivemos. Difícil é fugir dos sistemas opressores, das culturas impostas, dos traumas pessoais. Construímos muros e grades ao nosso redor, acreditamos que não temos direito à nossa existência, agimos como autômatos porque acreditamos no que nos dizem, e não na nossa voz interior. Para ser feliz é preciso percorrer um longo caminho de conquistas materiais; ser feliz é lá longe, não cá dentro. Confusão típica de um mundo que valoriza o ter no lugar do ser.
Para fugir a essas armadilhas, portanto, não basta apenas o ser dono da própria vida, realidade da qual nos esquecemos/afastamos, mas dar um passo além: o ser autor da própria vida.
A autoria, por sua vez, pressupõe um impulso criador, e isso já nos basta para evitar a mesmice, a normose e a consequente frustração. Para criar, é preciso entrar em contato com nosso eu mais profundo, que nos define como pessoas únicas, com sonhos e talentos intransferíveis. Talvez esse eu profundo seja o que eu chamei de coração há pouco. Alguns vão chamá-lo Deus (também aqui abarcando todos os nomes que Ele tem nas diversas religiões). E como ser infeliz quando se atende ao que há de mais sagrado em nós?
Por isso eu prefiro ser autora a apenas dona da minha vida. Prefiro bordar meus caminhos, poder mudar de ideia e de rumo quando meu coração assim pedir. Criar saídas onde não houver uma. Fluir com a vida, ver minha chama brilhar até que chegue o dia em que ela naturalmente se apague.