Sempre digo que a vida ideal seria ter casas espalhadas pelo mundo e um porto seguro para o qual regressar. Ou uma atividade que permitisse conhecer muitos portos, por algum tempo, e depois poder voltar ao tal porto mais seguro. Que hoje seria minha casa com uma microparede (um nicho apenas) pintada de Blue Bright Violet (o nome dado pela Coral não é esse, que peguei emprestado para sempre de uma caixa de lápis da Berol), fotos preto e branco, muitos livros. Mas que poderia ser outra, com uma grande mesa de madeira, cozinha ampla que permitisse invenções e muita conversa jogada fora, aquecida antes por um cafezinho. É muito bom viajar, mas é ainda melhor ter para onde voltar, ter o que contar, pessoas para ouvir o que se conta. E suas paredes, seu próprio chão, o som dos seus passos reconhecido.
Porém, há outro tipo de regresso que, podem acreditar, é ainda melhor. Voltar para si mesmo. Já tiveram a experiência? Eu acabo de ter.
Mesmo não tendo conseguido dizer tudo o que pensava, o que estava ensaiado (e daí talvez a dor de garganta de dois dias, diriam os antroposofistas e o meu acupunturista Dr. Magical Carlos), verbalizei enfim meu desejo de abandonar uma situação que se arrastava por um ano. Ainda vai exigir de mim um último fôlego, mas minha alma se sente novamente leve, eu me sinto novamente fiel a mim mesma. Como se, na volta de uma longa viagem, encontrasse uma casa empoeirada, com alguma desordem - mas minha. Entendem? Minha casa. Eu. O porto. Que saudade!