Ontem fui assistir à montagem de uma peça de meu amigo Flavio Goldman. Os passageiros foi encenada no Sesc Paulista, sob direção de Francisco Medeiros. Fica em cartaz até 28 demarço – o que é uma pena, pois merecia ser vista por muitas pessoas mais.
No cenário minimalista (apenas parte de um elevador, que vai ganhando outras partes, à medida que a trama avança), um terapeuta e seu paciente se encontram. A súbita pane no elevador leva a uma pane relacional, entre ambos e de cada um consigo, o que Flavio chamará apropriadamente de morte das personagens.
A tensão crescente deve-se, como sempre, à revelação de verdades. Mas essas verdades só podem ser reveladas com a alternância de simulacros, de imposturas. Quando deixei o Sesc, ainda absorvendo aquelas falas, veio-me à mente a excelente obra Amphitryon, de Ignacio Padilla, que já comentei neste blog ser um dos melhores livros que já li. Em comum com a peça, verdades e inverdades compõem no livro do autor mexicano um jogo de sombras, o que, via de regra, exige maestria.
Também em comum com o texto de Padilla, a peça de Flavio apresenta o elemento surpresa, quando pensávamos que já tínhamos “entendido tudo” do conflito – porque a impostura, afinal, habita a maioria dos conflitos cotidianos. Descobrir, como o paciente Ricardo, que não conhecíamos a verdade nem tínhamos o controle da situação (o que, muitas vezes, é a mesma coisa) tira-nos o chão. Um santo remédio para a empáfia e a descomunicação que nos assolam.